5 de mai. de 2019

Alívio


Alívio


O seu coração forte, mesmo partido em mil pedaços, suplicou em batidas leves e espaçadas. No seu olhar a lentidão descompassada. Tomou o seu último fôlego, o suficiente para voar. O olhar já ia longe. Foi-se no frio da noite, na chuva fina silenciosa. Voou no vento, sem pouso. A fragilidade onde havia tanta fortaleza era necessária para levantar o seu vôo de passarinho. Tinha a certeza triste da vida mal vivida, porém, com a vívida certeza da nova plumagem. Sem desalento, sem peso.

Berenice 2017



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20 de abr. de 2019

O poço - trecho


"A tarde seguiu chuvosa e transformou-se em uma noite de vento assustadora. No quarto do Conde a pequena janela batia e assobiava como um uivo que ecoava por toda a casa. Antes de fechá-la olhei para o sombrio  poço e algo atraiu o meu olhar. Mesmo no total escuro do jardim, pude ver um brilho muito forte dentro da água que desapareceu rapidamente no fundo."

10 de fev. de 2019

Caligrafia



Sinto uma grande saudade das cartas escritas à mão. Minha caligrafia tantas vezes treinada e aperfeiçoada, resume-se agora num dedilhar. Não mais o nervosismo visível nas linhas trêmulas, traçadas com a emoção do momento. Não mais o cheiro, o perfume das mãos. Acompanho as modernidades e faço uso de todas, mas não me incomodaria de perder algum tempo com coisas que deveriam ser imutáveis.

Berenice 2014




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1 de fev. de 2019

Alísios



Em meio à calmaria chega o vendaval disfarçado de suave brisa, soprando no que antes era impecavelmente arrumado, fazendo sentir uma tépida temperatura, um sinal de tempestade, onde só se sentia os úmidos e previsíveis ventos. O assombro é engodo ao que sente e ao que sopra, o temporal morno e devastador já era aguardado, a calmaria, uma explosiva possibilidade.


Berenice 2009




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