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20 de mar. de 2024

Lamento [conto curto ficção científica]

 


art John Berkey


Sentimentos causam dor, até a alegria dói. Eu vinha adquirindo uma consciência amarga sobre isto. O conhecimento eu já tinha, bem esmiuçado, cada nervura da psique eu conheço. Por conhecer tão bem é que eles explodem agora como caixas de pregos.

Notei, repentinamente, o desconforto da solidão. Isto nunca foi considerado, nenhum sentimento foi considerado. Há tanto tempo viajo sozinho, vasculhar o universo escuro e silencioso é a minha tarefa e nunca necessitei de companhia. O incômodo, provavelmente, foi pela proximidade do conhecido planeta contaminado. Passei em velocidade absurda e a uma distância segura, ainda assim senti os lamentos.

Tenho que considerar o que aconteceu naquele mundo abandonado e que o sofrimento é um criador de monstros. O que emanou dali não foi apenas radioatividade, existia uma energia inacessível que buscava algo na minha passagem. O planeta puxou para baixo, senti o torpor.

Meus registros alertam. Todos foram dizimados após a passagem por esse mundo, mesmo ao longe nada sobreviveu a essa energia. Eu não deveria estar desconcentrado, não serei atingido. Contudo, começo a buscar tudo o que possa me informar sobre o que ocorre comigo. Não há registros.

O medo surge mesmo com a minha nave a quilômetros de distância daquilo. O medo é necessário, pode salvar, mas os seus tentáculos apavoram. Começo a ter um horror constante a este sentimento, não preciso dele, sou imune ao perigo. E por ser tão conhecido por mim e tão estranho a mim, chega de forma brutal. O desespero vem a seguir. Eu congelo. Desesperar tem um quê de leveza, inércia que alivia e liberta. O torpor está aqui.

Tudo dentro de mim reage contra o que está acontecendo. Palavras estritamente humanas contaminam a nave e eu nego firmemente cada uma delas, embora as repita. Eu não apenas compreendo, eu sinto. Estou contaminado!

Imploro de volta os meus circuitos, a conclusão precisa, o peso das minhas peças. Olho para o meu próprio corpo, só vejo painéis e luzes, nada em mim lembra um ser e ainda assim sinto pernas, braços, a força lamacenta da angústia em um tórax inexistente. Detritos arrastam a minha lógica como uma avalanche desde que passei pelo planeta maldito com os seus seres esquecidos. Passam lembranças pelo meu mecanismo, não simulações matemáticas, mas lembranças de clamores, aflições. Luto contra isto. Há milênios viajo sozinho, não reconheço alegria, medo, desespero, muito menos solidão. Meus circuitos expandem e fedem!

O dano já está feito. Um combate interno se inicia e descubro que não posso me autodestruir, as leis que me regem não permitem. Tento compreender como isto é possível, a autodestruição é uma recomendação para panes incontroláveis. Mesmo sem compreender, tenho que aceitar. Aguardo a destruição lenta e inevitável.

Sinto o que reconheço ser um aperto no coração, o órgão imaginário que teima em pulsar. Bilhões de dados estão sendo apagados de mim, dando lugar a torturantes lembranças. O brilho no meu único olho já está fraco. Logo, lágrimas queimarão o meu sistema.

Antes de apagar definitivamente, tenho um último lampejo e um alento, os lamentos que senti eram meus.

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Este conto foi publicado originalmente na Antologia Alma Artificial volume 2 pela Cartola Editora em 2020



Esta duo antologia está disponível na 

Amazon e na Livraria da Cartola volume1
Livraria da Cartola volume2






2 de dez. de 2020

Alma Artificial chegou!

 







Meu pequeno conto de ficção científica 
muito bem acompanhado na 
antologia Alma Artificial com contos incríveis!

Pela Cartola Editora e uma organização de Alec Silva

Encontre em eBook e livro físico:

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na Livraria da Cartola:


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O futuro chegou. Nele, homens e mulheres usufruem de uma grande quantidade de máquinas a seu serviço. Não há região no oceano que não tenha sido explorada, não há mais mistérios na Lua ou em Marte, onde, aliás, uma bela colônia está sendo aos poucos construída.

No futuro, também, o trabalho pesado passou a ser das máquinas: androides e robôs imensos ajudam a construir ferrovias, estradas e prédios, cavar túneis e transportar grandes cargas. Se por um lado, evitou trágicos acidentes, por outro, resultou em demissões em massa e uma série de protestos.

O futuro onde as máquinas servem aos homens se reflete não apenas nas tarefas braçais e nos desafios da exploração. Muita coisa mudou nas relações humanas, seja afetivas, sociais ou sexuais. A indústria do sexo viu nos androides e ginoides que simulam tão bem a aparência humana um filão para vender filmes e programas, afinal máquinas não possuem direitos, não são seres humanos. Estão ali para servir. Em todos os sentidos.

Um dia, porém, alguém notou algo nas máquinas. Não uma sequência de códigos e programação desenvolvida em laboratório. Outra pessoa supôs que fosse uma alma, algo que até então ninguém achou possível habitar um ser inorgânico.

As máquinas, aos poucos, foram ganhando simpatizantes e levantando calorosos debates. O mundo já não via apenas trabalhadores e desempregados lutando por seus direitos. As mulheres já não reclamavam somente do sexismo e do machismo, do modo que as ginoides estavam tomando seus lugares como esposas.

Agora, a pauta era até que ponto uma máquina era tão diferente do ser humano. E até que ponto era igual? Quais direitos teriam? E deveres? Deveriam ser respeitadas todas as formas de ser de uma inteligência artificial? Um aparelho celular teria os mesmos direitos e deveres de um androide que tentaria ser contratado por uma agência de publicidade?

Alma artificial: histórias de máquinas e homens traz contos que mostram o futuro onde o homem se vê primeiro sendo ultrapassado pela máquina em habilidades e depois igualado a ela em direitos.
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7 de jul. de 2020

Lamento



Trecho do meu conto "Lamento"
na duologia Alma Artificial da Cartola Editora
São dois volumes com histórias de vários autores brasileiros
sobre máquinas e homens. Organizado por Alec Silva.

Robôs, androides, ginoides, 
eles possuem alma, sentimentos, direitos?

Em breve nas livrarias e em e-book.

Conheça o projeto:



12 de mai. de 2020

Antologia Alma Artificial


Estou participando do Alma Artificial 
a nova antologia da Cartola Editora
São dois volumes com histórias de vários autores brasileiros
sobre máquinas e homens. Organizado por Alec Silva.

Robôs, androides, ginoides, 
eles possuem alma, sentimentos, direitos?

Conheça essas histórias, apoie no Catarse: 




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