5 de jul. de 2021

Privações

 




As privações a que estou sujeito, não são de hoje, nem de ontem, não vão durar por um período. Elas já fazem parte de mim e estou perfeitamente adaptado. Desde sempre eu soube que seriam permanentes, aceitei. Não é como ir ali se alimentar de paisagens, cheiros e sabores nunca sentidos. Sou privado de me lançar na larva incandescente do vulcão, tão macia, luminosa, envolvente. De deitar na neve intocável, puxando para o mais frio, para o mais fundo. Mergulhar nas ondas imensas, beber sua água, boiar nos metros de altura da sua crista. De me jogar da falésia sem me desfigurar. De ser deserto sem precisar de água nem sombra. Anseio por cachoeiras, montanhas, até pela lama da enxurrada com toda a sua podridão arrastada. São lugares que eu só poderia transpor se fizesse parte daquilo. Eu teria que ser pedra, pronto para ser transformado pela água, pelo fogo, pelo vento, sem dúvidas nem medos, apenas pedra.

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2 comentários:

  1. Anônimo6.9.21

    Olá. Quando vi o magma na foto do conto fiquei curioso. Em Privações, acho que você descreveu parte do que sinto. Uma necessidade imensa de "ser pedra". De experimentar esses mundos. Parabéns.

    Lunéler Elias.

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    1. O poder da natureza e a nossa fragilidade nos faz apenas observar, por vezes sucumbimos, num instante não somos mais nada. Obrigada.

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