As privações a que estou sujeito, não são de hoje, nem de ontem, não vão durar por um período. Elas já fazem parte de mim e estou perfeitamente adaptado. Desde sempre eu soube que seriam permanentes, aceitei. Não é como ir ali se alimentar de paisagens, cheiros e sabores nunca sentidos. Sou privado de me lançar na larva incandescente do vulcão, tão macia, luminosa, envolvente. De deitar na neve intocável, puxando para o mais frio, para o mais fundo. Mergulhar nas ondas imensas, beber sua água, boiar nos metros de altura da sua crista. De me jogar da falésia sem me desfigurar. De ser deserto sem precisar de água nem sombra. Anseio por cachoeiras, montanhas, até pela lama da enxurrada com toda a sua podridão arrastada. São lugares que eu só poderia transpor se fizesse parte daquilo. Eu teria que ser pedra, pronto para ser transformado pela água, pelo fogo, pelo vento, sem dúvidas nem medos, apenas pedra.
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